03 dezembro 2008

Reflexão de Graciela de Souza Oliver




Belo Horizonte, 05 de março de 2008.

Existem várias formas de tirar um filho de sua mãe. A primeira delas é uma cesárea. É certo que há casos em que essa intervenção cirúrgica pode e deve ajudar. Mas quando ela é realmente necessária? Quem decide isso? Como é possível decidir sobre isso, quando muitas mulheres não sabem nada sobre o que é parir? Quando toda uma cultura feminina sobre parir está desarticulada das instituições da vida moderna? Está a cultura médica hospitalar cumprindo com esse papel? Não!

A ciência médica tem invadido as nossas vidas pela nossa própria procura. Procuramos uma vida plena, sem doenças, sem dores, com alívios imediatos. A morte não é mais tão inexplicável e imprevista. Morrendo no hospital destacam-se nas notícias as mortes fatais, horrendas e originadas na violência. Não queremos ver isso. Todo mundo sonha com uma morte tranqüila, em casa, numa inspiração lenta.

Entretanto, o mais comum é no hospital. Vemos familiares à espera diária por algumas horas de visita na UTI. Todo esse tempo e espaço para a morte, infelizmente não existe para nascer nos hospitais modernos. As mulheres não querem sofrer ou tem medo da dor do parto. Há uma forte relação entre dor, doença e morte na nossa sociedade.
Por outro lado, com o forte apelo sexual ao corpo feminino é vergonhoso expor o corpo no hospital. A não ser que ele esteja doente.

Nesse contexto é difícil acreditar que uma mulher possa chegar ao hospital com dor, ensangüentada, em um roupão apenas, sem poder explicar ao médico, durante as contrações, que ela está ali feliz. Ninguém acreditará que estava tudo bem no seu íntimo, que ela não precisará se render aos anestésicos.

Quando ouvimos histórias sobre parto normal achamos que isso é coisa do passado ou de algum lugar distante. São narrativas únicas, com detalhes improváveis e explicações não tão comprovadas pela ciência.

Já a cesárea é certa, é fácil para a mãe, é rápido, é limpo e indolor. Ela não faz nada.
Mas mãe nenhuma que passou por uma desnecesárea, como eu, poderá se desfazer da frase: - e ai ele tirou o bebê... Esse sentimento é absolutamente não natural numa hora de nascer! Para não falar de outras conseqüências para a mãe e o bebê nascidos de cesárea.

Eu acredito que nós mulheres estamos muito mal informadas e nos omitindo em nosso poder de “parir” e de compartilhar essa experiência. Eu pude, numa segunda gravidez, já melhor informada e acompanhada de uma doula, deixar meu corpo e o do bebê controlar a cena. O médico assistiu. Se essa é uma situação pouco confortável aos médicos, que estão acostumados a intervir, que nasçamos em casa ou em maternidades conscientes! Afinal, é preciso “dar a luz” em tranqüilidade para que possamos apagá-la também. Então, escrevi a poesia abaixo para encorajar as futuras mães e acharem seu caminho de luz.

Aos bem nascidos
Hoje abracei meu filho. Foi como se eu estivesse em casa.
Seu corpo tão pequenino aconchegou-se ao meu. Eu era a casa dele também.
Lembramos de tudo, de quanto nos amamos e somos capazes de amar.
Esse encontro de segundos foi um alento e um recomeço.
Sempre estaremos lá, um para o outro, indiferentes às atribulações da manutenção da vida. Basta para isso um pequeno momento, um carinho, uma necessidade mútua de encontrar. Encontrar a paz!

Graciela de Souza Oliver

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